2024-05-06 - challengers
tentei organizar alguns pensamentos que tive essa semana aqui.
não estão muito estruturados e não sei se concordo completamente com eles, mas resolvi colocar no papel algumas coisas que sinto quando observo a masculinidade heterossexual.
homoerotismo
desde que assisti Challengers esse final de semana (no cinema, sozinho) ando pensando muito sobre homoerotismo dentro do contexto da masculinidade heterossexual.
ao contrário do que ouço no dia a dia, ando pensando especialmente em como não considero que o homoerotismo esteja intrinsecamente ligado à amizade masculina.
isso não significa dizer, obviamente, que o homoerotismo não esteja presente em amizades masculinas. muito pelo contrário, inclusive.
só não acredito que essa seja a sua fonte principal.
um dos maiores casos que vejo sendo citado como exemplos de homoerotismo são as famosas piadas entre amigos heterossexuais. "você tá muito gostoso hoje hein, amigão", "bora se beijar na moralzinha sem perder a amizade?", "fica esperta, fulana, vou roubar seu namorado só pra mim", "posso pegar no seu pau? na broderagem".
esta é, na minha opinião, a parte menos homoerótica de qualquer amizade masculina heterossexual. homoafetivo? possivelmente. homoeróticas? acredito que não.
o homoerotismo, pra mim, precisa necessariamente ter um subtexto sexual, não basta ser erótico apenas na superfície.
essas piadas são comuns e socialmente aceitáveis justamente por estar claro que não há pensamentos sexuais envolvidos entre os participantes. não há uma vergonha interior dos indivíduos por realmente ter esses pensamentos sexuais a respeito dos seus amigos. não há nenhuma frustração.
mas o que, então, gera os pensamentos homoeróticos?
pessoalmente, eu acredito que o homoerotismo venha principalmente da rivalidade masculina.
naturalmente, essa rivalidade também é muito presente nessas mesmas amizades, o que faz com que esses conceitos se misturem.
mas o homoerotismo, na heterossexualidade, aparece justamente ao se comparar com o outro homem. seja em competições com seu desempenho esportivo, seja fisicamente com seus corpos, seja socialmente com suas personalidades, ou seja romanticamente com suas experiências amorosas, sexuais e conflitos por mulheres.
a virilidade está sempre em pauta, de maneira clara ou subliminar, e está frequentemente ligada ao sexo. o homem encara seu rival de maneira sexual.
a frustração por se sentir inferior aos seus pares é, na minha opinião, também uma frustração sexual.
nunca esse sentimento está mais latente do que na forma como homens enxergam o ato de ser corno.
não a toa, no filme Challengers - chamado em português de Rivais - os dois personagens masculinos competem entre si não somente no esporte, como também no amor.
nesse caso, o homoerotismo se manifesta de maneira bem óbvia na própria competição, que intensifica a forma sexual com a qual os dois homens se enxergam.
é natural dos esportes. afinal, existe algo mais homoerótico do que artes marciais como o jiu jitsu?
toda rivalidade masculina é, no fundo, uma briga pra ver quem tem o pau maior, metaforicamente.
o filme me lembra a famosa e brega frase: "tudo no mundo é sobre sexo. exceto sexo, que é sobre poder."
o jogo de tênis é sobre sexo. o jogo pela Tashi é sobre poder.
OBS: não acho que o filme esteja alinhado com o que eu está escrito aqui. ele mostra o homoerotismo acontecendo na amizade masculina em momentos em que não há uma rivalidade clara, como quando o Pat coloca sua mão nas coxas do Art enquanto conversam. entretanto, não enxergo muito isso na vida real, então não coloquei essa perspectiva aqui.