2024-05-08 - Drake e Taylor Swift, uma crise estetica
os maiores artistas do hip hop e do pop da década de 2010 estão passando por um momento muito similar.
a popularidade, as streams, o dinheiro, todos nunca estiveram tão altos para ambos.
mas a decaída em qualidade dos seus últimos projetos fez com que as manchas em suas imagens públicas, antes já reconhecíveis, ficassem ainda mais claras para o público em geral.
os dois querem a fama, a adoração, a obsessão de serem grandes ícones pop de fácil consumo. mas nenhum está disposto a perder o prestígio e o reconhecimento de representarem o pop e o hip hop como artistas legítimos.
a Taylor quer ser respeitada por suas letras e talento para contar histórias, o Drake quer ser incluído no cânone dos GOATs por suas contribuições à cultura do hip hop.
infelizmente para eles, you can't have your cake and eat it too.
a carreira dos dois foi catapultada fortemente pelos seus esforços em construir fortes relações parassociais com seu público.
a imagem identificável de uma garota como as outras, a figura aspirável de um homem rico, popular e putão. são receitas muito bem fabricadas para conseguir o sucesso.
ambos gostariam muito de explorar esses arquétipos para continuar crescendo pelo resto de suas carreiras.
uma pena que essas fabricações possuem contradições intrínsecas e inescapáveis que se tornam cada vez mais aparentes.
para ser respeitado como artista, é muito importante que você seja capaz de sustentar esteticamente as decisões tomadas nas suas obras.
a Olivia Rodrigo, assim como a Taylor Swift, tem muitas letras que podem facilmente ser lidas como bregas ou juvenis demais.
mas não vejo muitas pessoas atribuindo as mesmas críticas a ela que atribuem às letras da Taylor.
na minha opinião, o motivo disso é simples.
uma garota de 20 anos com uma produção pop / rock levemente angsty consegue sustentar tranquilamente a letra "I wanna kiss his face, with an uppercut. I wanna meet his mom, just to tell her her son sucks."
uma mulher de 34 anos não consegue sustentar seriamente a letra "Who's afraid of little old me? You should be" por cima de um instrumental de propaganda de jogo falso de 15 segundos da App Store, que não seria interessante nem em 2017 nem em 2019 quando o mesmo Jack Antonoff produziu Melodrama e Norman Fucking Rockwell.
o caso do Drake é mais interessante.
cansado de não ser levado a sério por ser considerado um turista da cultura do hip hop durante seus primeiros anos de carreira, sua solução foi levar completamente a sério a frase "fake it 'til you make it."
foram anos reconstruindo sua imagem para se aproximar mais da linguagem, das gírias, da postura, dos beats e da masculinidade do hip hop americano para ser aceito pela "culture".
infelizmente para ele, tudo que ele conseguiu foi apenas ser aceito pelo público geral que se interessa pelo rap unicamente pela estética.
não existe possibilidade dele sustentar suas letras sem cantar sobre a cultura que ele realmente foi criado, não existe chance dele se inserir entre os grandes do cânone do hip hop sem escrever qualquer álbum com um mínimo comentário social.
se ele quer ter a fama de um Michael Jackson com a profundidade de um DJ Khaled, esperamos pelo menos que ele aja como o Flo Rida que ele é.
pra mim a estética é muito importante para sustentar qualquer arte.
espero que ambos sumam do espaço público por 8 anos até lançar um álbum realmente bom assim como faz Fiona Apple.
mas me contento com a imagem pública de ambos decaírem a ponto de virarem o equivalente dos Romero Brittos da música.